Eu ainda mantenho hábitos, que achei que perderia quando crescesse. Escrevo diários, faço desenhos, colo papéis em caderninhos. Eu acho tão patético que a gente pense que brincadeira é coisa de criança e que ser adulto é sinônimo de seriedade. Eu acho que as coisas que nós gostamos de fazer é que precisam ser levadas à sério, é que precisam ser levadas com a gente, não importa o quanto a gente cresça. Num mundo perfeito, inclusive, eu acho que nós deveríamos ser ensinados a sempre preservar um espaço na rotina de gente grande pra fazer algo que nos lembre que a vida não é só isso, mas já que o mundo nos ensina o contrário, eu estou passando aqui pra lembrar, não incluir na sua rotina coisas que te deem verdadeiro prazer, vai te enlouquecer. Leve suas paixões tão a sério quanto leva o seu trabalho ou leve suas paixões mais a sério do que leva o seu trabalho. Notei que tenho uma obsessão por autodefinição, meio sem perceber, fico o tempo todo me analisando, tentando me entender e logo me definir, como se as pessoas todas andassem por aí com uma mini bio pendurada no pescoço e eu precisasse criar uma perfeita pra mim. Sou isso, gosto daquilo, e é ingênuo, porque ao me autodefinir com tanta certeza, eu acabo anulando a possibilidade de mudança, como se eu fosse todo dia a mesma. Como se eu ainda gostasse da cor preta, como se não tivesse voltado a desenhar, como se conseguisse cultivar meus hábitos, como se eu não acordasse todo dia me sentindo outra. Também é ingênuo, porque ao me definir eu assumo que sou aquilo mesmo, como se fosse, como se estivesse dizendo sempre a verdade, como se dizer que é, fosse o suficiente pra ser, não é, sei disso. Pois nunca concordo com as definições fuleiras que criei pra mim no dia anterior e nunca vou concordar, porque eu nunca sei, quem eu vou ser amanhã.

— .(Escrito dia 18/04/2025, às 19:38).