"Ao meu passado,
Eu devo o meu saber e a minha ignorância,
As minhas necessidades, as minhas relações,
A minha cultura e o meu corpo,
Que espaço o meu passado deixa para a minha liberdade hoje?
Não sou escrava dele."
Eu não quero ser quem você quer ver em mim, eu quero ser quem eu sou, e quem eu já me esqueci. Eu quero cavar um monte de rios em mim, pra que haja espaço pra minha água cair, pra que eu possa me permitir fluir e decantar, pra que eu consiga enxergar o que respinga nas minhas margens, e o que açora as beiras dos meus olhos, transborda a minha mata ciliar. Eu quero sentir na boca, a cor que tem meu desaguar, sem me dessalgar. Eu quero que você engula o seu julgar, que a minha barragem só barre o que eu já não deixo entrar. Eu quero poder me desmoronar pra me aterrar, reconstruir e sedimentar nos pedaços dos meus 3 tempos: Passado, futuro e presente, todos eles imperfeitos, inquietos e sorrateiros, mas densos, e é com eles que vou sendo quem eu sou e descobrindo como ser quem eu quero me lembrar. Ah, como é bom da gente mesmo se molhar.
— .(Escrito dia 15/06/2025, às 19:37).